"Naquela noite - em um grupo que estava profundamente interessado em fenômenos psíquicos e espirituais, em agosto/1952, em Zurique/Suíça - pela primeira vez na minha vida - aos 37 anos - senti uma forte presença e uma impressão de realidade com relação a Deus. Apenas uma coisa me incomodava: minha mão direita. Ela começou a doer. O que poderia ser? Parecia reumatismo. Isso surgiu de repente e decididamente me impedia de aproveitar minha linda experiência. Minha mão ficou muito pesada, tão pesada que meu braço não conseguia suportar o peso da minha cabeça. Parei de resistir e simplesmente deixei o braço cair sobre a mesa, esperando que atenção nele diminuísse.
Subitamente, minha mão se moveu contra a minha vontade, e meus dedos se moveram sobre a toalha de mesa como se eu estivesse escrevendo. Peguei papel e um lápis e o lápis começou a escrever. Não era eu - eu não tinha como interferir. Primeiro, apenas linhas retas foram desenhadas diagonalmente, cruzando o papel. Em seguida, cada linha começava com meu nome e terminava na linha diagonal ascendente - de novo e de novo. Meu coração estava batendo. Foi uma experiência extraordinária. Quando ouvi falar sobre esses fenômenos, eles eram chamados de "escrita automática". Mas como isso pôde acontecer comigo? Justo comigo! Eu não tinha nenhum desejo de me tornar uma "médium". Que pensamento aterrorizante - e embaraçoso! O que todos os meus amigos diriam? Eles achariam que fiquei louca. No entanto, isso é fascinante, pensei. O mero fato de que algo que eu tinha feito estava além do meu controle imediato parecia bastante incrível. Nem por um instante duvidei de minha sanidade e estava curiosa para ver o que mais minha mão escreveria.
No dia seguinte, visitei uma amiga que estava bastante familiarizada com esse tipo de fenômeno, encarado como uma coisa natural. Ela me alertou para nunca praticar sozinha, porque o fascínio do fenômeno é tão profundamente envolvente que é possível perder a noção da realidade e deixar de usar o bom senso - ambos extremamente necessários no treinamento de dons mediúnicos. Para destrinchar os muitos níveis do fenômeno, é preciso um ceticismo saudável, mente aberta, experiência e conhecimento nessa área, desapego e inteligência. É muito fácil, no começo de tal experiência, perder o senso de proporção, deixar-se levar pela emoção, sucumbir à adulação e à autoilusao. Minha amiga se ofereceu para se reunir comigo, regularmente, propondo que essas sessões fossem realizadas de maneira ordenada, com duração aproximadamente de uma hora, e me alertou para não ceder a nenhuma demanda absurda que pudesse surgir com a escrita.
Demorei um bom tempo para entender que são necessários anos de trabalho árduo, treinamento, desenvolvimento pessoal, profunda autoconfrontacao e tentativa e erro até que se possa chegar a um nível de comunicação significativo e construtivo. Houve muitos empecilhos, muitas tentações a serem superadas.
As primeiras dez sessões com minha amiga foram infrutíferas: não produzi nenhuma escrita inteligível - apenas rabiscos, como de crianças; mais tarde vieram notas musicais. (Não toco nenhum instrumento musical, nem tenho um ouvido especialmente bom.) O traço das linhas para as notas eram tão reto que parecia que uma régua tinha sido usada. Depois das dez primeiras sessões, surgiram várias caligrafias.
Então, a partir de um certo momento,
manifestou-se uma escrita de caráter notadamente diferente das outras, diferente em ênfase e quanto ao sentimento que induzia. Tinha
autoridade, de uma maneira
calma e segura; não hesitava. Obviamente, sabia do que estava falando. Suas afirmações eram de incrível
lucidez e sabedoria. Sempre se concentrava no desenvolvimento interior e recusava-se a discutir banalidades ou fornecer qualquer "prova", intensificando o fenômeno. Nunca insistia em obediência, mas aconselhava calmamente. Nunca tomou decisões em nome de outras pessoas, mas ajudava com relação a como cada um podia tomá-las. Tinha o incrível
dom de evidenciar uma verdade dolorosa ou pouco lisonjeira
sem magoar, mas elevando o espírito da pessoa, ao mesmo tempo.
Essa voz - seja lá o que ou quem fosse - possuía uma sabedoria superior à de qualquer outra que eu tivesse encontrado anteriormente."
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O texto acima é uma adaptação (com grifos meus) sobre o capítulo inicial do livro O CAMINHO PARA O EU REAL, escrito em 1965, por EVA BROCH PIERRAKOS, publicado em 2012, pela instituição Pathwork São Paulo.
Mais informações históricas sobre EVA PIERRAKOS:
- Filha do romancista judeu alemão JAKOB WASSERMANN (10/mar/1873- 1º/jan/1934) autor de clássicos da literatura mundial "O caso Maurizius" e "O enigma de Kaspar Hauser" que foram levados ao cinema.
- Nascida em Viena/Áustria em 30/mar/1915.
- Perdeu o pai, aos 18 anos, em 1934.
- Em 1939, mudou-se pra Nova York.
- Entre 1952 e 1955, o treinamento de desenvolvimento psicológico pessoal, na Suíça.
- Em ago/1952, em Zurique/Suíça, começou a psicografar no estilo "escrita automática". Tempos depois, as mensagens lhe viriam em estado de transe uma voz interior inspiradora.
- O Guia, nome pelo qual a voz (na verdade, um ser espiritual) veio a ser chamado pelas pessoas que se sentiam guiadas para o autoconhecimento e autotransformação, a
- Em 1956, retorna aos EUA.
- Um novo grupo se reunia a cada quinze dias, para ouvir o Guia.
- Primeira palestra da metodologia se deu em 11/mar/1957.
- Em 1967, conheceu o psiquiatra John C. Pierrakos, um dos fundadores da Bioenergética e quem iria mais tarde lançar a Core Energetics.
- Em 1971, casou com John, e passou a se assinar EVA BROCH PIERRAKOS.
- Última palestra em 7/fev/1979.
- Em 1º/mar/1979, faleceu em Nova York.